segunda-feira, 7 de junho de 2010


Divina Dor

"Cheguei hoje, de repente,a uma sensação absurda e justa."

Bernardo Soares

[...] PLANEIO, nesta minha vaidade da cabeça, a parte breve do esquecimento destes meus poemas eternos.

Sempre com a fadiga dentro da humilhação em mim, e não poder ser eu senão um corpo esquecido, cansado e vão no meio destas Sociedades grandes!; deste mesmo modo sucedeu a desilusão. Toda a minha fraqueza tem esta subtileza indesmentível.

É natural que a minha estação espectral - a da alma - seja só minha por ser Esta!, por poder ser Eu (só Eu!) a senti-la!

Um sonho que não esqueço, pois ao tê-lo todos me apontaram o dedo com uma precisão incrível de o saber apontar. O meu medo de os olhar são os últimos gestos a agir, bem como magoadas estão as células do meu corpo esquisito com dedos de indiferença e pés de sombra e um cabelo de véus, por carnificina. A minha sensação externa de fumar um cigarro desperta-me do sonho - bruma iníqua - e dói, e dói para que se saiba que todas as coisas começam...

Foi a Existência que criou em mim a febre do acaso do Destino, e as justas posições de desilusão em fardos e os termos correctos em fórmulas que continuarão na minha criação, sem vestígios defronte dos outros.

Tenho consciência das paredes umbilicalmente ligadas e assexuadas entre si, e dos átomos inteligentes que me compõem; o que abomino é realmente náusea de tudo que o sonho me provoca. Interrogo-me com critério se tudo isto que tem rotação própria é ainda um assombro das imaginações de infância ou mera e ordinária prosa do meu amor perdido... Mas a dor física é maior que toda a criação, mais sublime, e a sua inofensividade ainda maior, afectando contudo todo o meu Consciente-nado.

[...] Estou neste meu corpo como num quarto antigo que suponho apenas com a anemia do pensamento solto, religiosamente livre, metafísico e não havendo ninguém no seu interior.

Rúben De Brito

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