quarta-feira, 30 de junho de 2010

Homenagem ao Teu CORPO*

"Se não te atrasares demais, posso esperar-te a minha vida inteira."
Oscar Wilde


          Sentir-Te PERTO, corpo delicado como malmequeres em exortação alegre pela claridade do astro-GIGANTE, da estrela-Mãe que nos aquece pelas saliências dos nós dos dedos, pelos declives das faces curvas, pelo estreitar forçado de pensamentos apaixonados...

          Sentir-te LONGE, corpo glacial e morto em meu pensamento, como lírios esquecidos no vazio - pálidos de escuridão na alameda distante, num vigor anormal fora de tempo; erectos em filamentos naturais, doloridos, alheios. Eu, mais que todos, poder-Te-ia imaginar distante e infinito...

          Sentir-Te CORPO malifluamente deitado sobre o meu, bebendo átomos de anemias amorosas - ambos um pássaro de fogo, rasgando cascatas de Sonho, conquistando Distâncias inconcebíveis. Este AMOR num resurgir espontâneo e imediato em descompasso vestido de ritmos. (Tudo o que amei e amo parece-me falso!)

          AH! Continuo SONHANDO-Te magistral, CORPO-príncipe surreal no sono subatomicamente eterno que os deuses te deram em meu pensamento..., dormindo com lábios cosidos em carmim, de olhos desenhados em espanto, de corpo fabricado em algodão. (Teu-todo é um choro de febre que tenho nesta gare!)

Rúben De Brito

*(Homenagem em processo de análise para publicação em livro, título temporário: «O Pierrot Absurdo»)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Desconsciência

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."

José Saramago

Tenho trazido em pensamento uma mágoa que ecoa num espaço que disponho por intervalos de diálogos.

Justifico-me, agora, que todas as vezes em que me não compreenderam, em que tencionaram o quão erróneo estive em certas posições, digo, e abro sinceramente aquilo que me considero e que muitos também: sou um jovem esquizofrénico - digo isto, e posto de parte, lamento-me; sei-o melhor que muito bons homens em meu redor pensam saber. Transporto um desfasamento mental, não o considero doença. Aliás, se um psicólogo chegou a pensar o mesmo de mim, por que razão óbvia não poderei ter eu toda a legítima certeza deste permanente descompasso?

Por outro lado, mais claro para mim, mais difícil de expressar para outros, sou um génio - distingo a obra que tenho construído, que gravo com enchentes de letras, há alguns anos. Reconheço que, após isto, reconheçam de igual maneira a minha loucura.

Escrevo com aflição: aprendi a observar a verdadeira essência humana, e dos seus justos valores. O estádio último a chegar, a Pureza. Sigo um caminho de sofrimento, interior e só, para lá poder bastar. Quando atingir esse nobre valor a permanência da minha vida neste mundo deixará de possuir merecimento humano e passará, por sua vez, a valentia vital póstuma. Vital para aqueles que nascem para construir um filho-intelectualizado, com arte e ciência.

Não sou compreendido porque escrevo para a posteridade. Não pensem, porém, que provarei a minha esquizofrenia e a minha prazenteira índole genial nesta página, pois não o farei, claro está.

Quem gozar de curiosidade pouca a fim de conhecer a complexidade de outrem, oiça os mortos ruídos que ecoam por entre intervalos de diálogos que se têm com muita gente. Em mim permanece apenas! o sentido lógico de atingir a Pureza por intermédio de uma arte, na procura da expurgação da alma (alma é o que considero, em grosso modo, pensamento), neste caso a Literatura.

Rúben De Brito

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Vanitas Vanitatum


"É nestas horas de um abismo na alma que o mais pequeno pormenor me oprime como uma carta de adeus."
Bernardo Soares


O copo de vinho e o seu reflexo, a abundância de comida, o relógio, a pilha de livros e os instrumentos musicais bebo pela a ausência do teu corpo em disposições frustradas, em pensamentos inimigos vestidos de nudez. Sinto-te corpo e alma na mais serena das horas da minha tarde triste. Penso-te, enquanto vivíamos felizes, numa justa filosofia espontânea e criativa, o cosmos inteiro nú, a metafísica íntima.

Os nós do teu corpo que a minha paixão teceu seriam, quem sabe, a medida certa para a vaidade pagã do meu coração equilibrado, no sofrimento certo para a procura difícil, mas majestosa, da pureza. Toda a riqueza da tua falsidade serviu-me e matou-me a fome, a sede, infinita e absolutamente desértica, permaneceu. O meu amor desfeito, o rodopio da minha felicidade etérea bóia em caixotes de recordações e, todas as minhas afeições por ti, como ninguém as teve porque as tive altivamente, passam pela alma - a dor inóspita do pensamento que supus não ter.

Absurdo escrever isto por sempre te amar, ou mesmo não amar com a amargura no estômago e no cérebro, relacionando-os somente fonte de tédio e cansaço.

Cumpro, num ritual que consiste numa franca pândega de alameda, a realidade vendida aos outros, sentindo o meu corpo ser tratado como esquecimento numa noite extraordinária em que todos saem à rua e eu, enfim, corrente estagnada no exílio da paixão consagrada. Espontaneidade - para quê tê-la se foi com ela que sofri?

Concebo-me fome e sede de reflexos de copos de vinho feitos em manicómios, concebo-me tempo e espaço em relógios abundantes em paisagens e gentes fictícias, concebo-me livros num túmulo morto e escuro com a sabedoria dirigindo a vitalidade, concebo-me intrumentos musicais tocados com pulmões e corações e músculos das tuas mãos gigantes e delicadas e, no fim de tudo, dos artífices, das tragédias, das inutilidades, de tudo mesmo!, nunca sonhei, senão porém, o Amor doído.

Rúben De Brito

segunda-feira, 7 de junho de 2010


Divina Dor

"Cheguei hoje, de repente,a uma sensação absurda e justa."

Bernardo Soares

[...] PLANEIO, nesta minha vaidade da cabeça, a parte breve do esquecimento destes meus poemas eternos.

Sempre com a fadiga dentro da humilhação em mim, e não poder ser eu senão um corpo esquecido, cansado e vão no meio destas Sociedades grandes!; deste mesmo modo sucedeu a desilusão. Toda a minha fraqueza tem esta subtileza indesmentível.

É natural que a minha estação espectral - a da alma - seja só minha por ser Esta!, por poder ser Eu (só Eu!) a senti-la!

Um sonho que não esqueço, pois ao tê-lo todos me apontaram o dedo com uma precisão incrível de o saber apontar. O meu medo de os olhar são os últimos gestos a agir, bem como magoadas estão as células do meu corpo esquisito com dedos de indiferença e pés de sombra e um cabelo de véus, por carnificina. A minha sensação externa de fumar um cigarro desperta-me do sonho - bruma iníqua - e dói, e dói para que se saiba que todas as coisas começam...

Foi a Existência que criou em mim a febre do acaso do Destino, e as justas posições de desilusão em fardos e os termos correctos em fórmulas que continuarão na minha criação, sem vestígios defronte dos outros.

Tenho consciência das paredes umbilicalmente ligadas e assexuadas entre si, e dos átomos inteligentes que me compõem; o que abomino é realmente náusea de tudo que o sonho me provoca. Interrogo-me com critério se tudo isto que tem rotação própria é ainda um assombro das imaginações de infância ou mera e ordinária prosa do meu amor perdido... Mas a dor física é maior que toda a criação, mais sublime, e a sua inofensividade ainda maior, afectando contudo todo o meu Consciente-nado.

[...] Estou neste meu corpo como num quarto antigo que suponho apenas com a anemia do pensamento solto, religiosamente livre, metafísico e não havendo ninguém no seu interior.

Rúben De Brito

sábado, 5 de junho de 2010


DANI-FIDENI

A rosa que me deste era um cipreste
com a gola de túmulos anónimos
espetada no coração que me nasceu nas costas
com a ausência da seda humana.

O teu corpo com fios desenhado
dentro de uma gaiola de alcatrão
e com a certeza de uma colher
à distância INDEFINIDA em ti.

O teu cabelo desencaracolado com a falta
dos olhos últimos
franjado da incerteza infinita...
Amar-te com uma altura negativa,
a quilómetros de um garfo sem dentes
com um sorriso de massas
com uma FÓRMULA no queixo
com uma imaginação fora do pêndulo -
preso à ponta de um ponteiro sem corda

Um vidro aprisionado na pétala
com um reflexo de primaveras
de suspirar profundo e com pernas.
ESORCEQUIDOMA - ...
O teu peso em mim com um beijo debaixo do braço

O absurdo dos teus olhos com cabeças desenhadas
com a tua imagem de perfil no horizonte,
Aquele-Que-Amo EXAGERADAMENTE!
Rúben De Brito


Primeira Saudação

Viajo sobre a tristeza do destino, sem querer saber do quão correctos estão os mapas, nem os pontos cardeais. Tenho em mim, biologicamente, o caminho certo - o esquecimento da anemia da minha consciência; uma só coisa acrescento à vida que sempre me varreu o corpo desde pequeno, uma só coisa acrescento ao dia por onde inúmeras vezes fui feliz, acrescento a alma da compulsão do meu sonho, das paisagens da carne, das cartas para não mais mandar, embora quase única a tenha feito, e sem vestígios.

Sinto-me próximo da verdade da viagem inacabada, sem cabeça nem dentes, sem amor, apenas vida por ser ela e nada mais! As intercalações dos meus devaneios - guardados em lágrimas de papel - que falem e contem as histórias por mim.